Para falar dos problemas da educação não se pode
deixar de comentar a carga horária.
Oficialmente, o ano letivo tem em média 180 dias de
aula-ano, muito inferior ao período dos países considerados desenvolvidos.
Deste número oficial de dias, ao menos uns cinquenta poderiam ser
desconsiderados.
Não há aula nas duas semanas iniciais na maioria
esmagadora das escolas, nas duas antes das férias de julho e quase um mês antes
do fim do ano, sem contar os feriados que são emendados, como de Carnaval,
Semana Santa, Tiradentes, Sete de Setembro, Quinze de Novembro, além das datas
de acontecimentos locais.
Todo mundo já ouviu uma famosa frase de algum
professor: “oficialmente deveria ter aula, mas vocês, alunos, decidem.” Se
vierem, eu terei que dar aula. Exatamente o que os alunos queriam ouvir. Essa
frase soa como música. Aqueles que se propuserem a ir para a escola tornam-se
chatos e inconvenientes até para os mestres, sem falar nas ameaças e riscos.
No fim do ano, os alunos aprovados e os reprovados
igualmente não sabem nada, o que culmina, lá na frente, com inúmeros bacharéis
inteiramente despreparados, incapazes de escreverem corretamente um simples
texto. Agora, as postagens nas redes sociais são prova inconteste disso.
Talvez a carga horária nem precise ser ampliada,
apenas as aulas deveriam ser ministradas inteiramente, cumprindo-se os prazos
fixados no calendário, sem emenda de feriados, sem entradas atrasadas nem
saídas antecipadas e com aulas para valer do início e ao fim do ano
letivo.
As escolas precisariam ensinar, além da didática,
noções básicas de cidadania, como não jogar lixo nem bituca de cigarro nas
ruas, não cuspir nas vias públicas, respeito integral às regras de trânsito e
tantas outras.
As escolas deveriam descobrir - e exercer - seu
verdadeiro papel na sociedade. Essa indefinição torna-se ainda pior do que a
falta de estímulo de professores, pais e alunos, enfim, de todos os envolvidos
diretamente com a educação, que querem melhorar o nível do ensino no país, mas
não sabem por onde começar.
Este texto, com pequenas atualizações, foi escrito
em 1995. Como se vê, depois de passados vinte anos, o texto é atualíssimo.
Espera-se que alguma melhora o desatualize daqui a mais duas décadas.
Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP para o JV
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